quarta-feira, 25 de maio de 2011

Não é porque meu papel está vazio, sem nenhum tipo de concisão há tanto tempo que o meu coração também está assim, silencioso. O tempo está passando tão rápido por mim, eu fecho os dedos das minhas mãos com tanta força, mas o tempo prossegue passando, caindo por entre meus dedos, eu não consigo mais segurar ele aqui.
Tantas meninas eu já fui, arrisco dizer até que já fui muitas mulheres. Minha tristeza sempre rendeu boa poesia, minha verdade sempre serviu de guia pra pessoas que queriam acreditar não estarem tão sozinhas nesse mundo onde os sonhadores são pisados na cabeça, são sempre feitos de bobos. A verdade é que a gente se presta ao papel de bobo quando quer acreditar nas verdades absolutas que ouvimos desde criança sobre a lealdade, a amizade, o esforço, a justiça e sempre, claro, o amor.
Jamie Cullum diz numa música que eu já escutei tanto que posso contar as notas na cabeça, que sempre ouviu dizer que o amor seria capaz de acabar com as outras todas desgraças e insatisfações da vida de alguém, que ele seria capaz de tirar o peso do emprego que não dá prazer, dos amigos que não são leais, da falta de vontade que às vezes dá de levantar da cama num dia cinza. Mas Jamie percebeu, ali pro final da canção, que a resposta não havia de ser tão simples assim. Percebeu que o amor é super valorizado e que, de tanto a gente depositar todo o peso do mundo nas costas dele, na hora que chega acaba não dando conta de tanta cobrança, de tanto desejo acumulado de felicidade esperando uma oportunidade. Eu tenho amor, hoje eu posso dizer isso de olhos fechados. Mas eu ainda tenho muitos problemas e, hoje, alguns deles são realmente sérios. Eu já vi gente que eu gosto ir embora, já fui embora de gente que me queria por perto, já voltei pra abraçar minha família, já chorei por não poder abraçar meu namorado, eu perdi amigos pro tempo e também, mais grave ainda, perdi amigos pra vida (amigos jovens, cheios dela ainda). Não gosto do meu emprego, não acho que fiz a faculdade certa, fico pairando numa linha sublime de expectativa concentrada de que um dia eu vou finalmente acordar de manhã achando que eu tenho o emprego mais legal do mundo. Eu me cobro felicidade todos os dias porque todos os dias eu vejo tanta tristeza real por aí e  acho injusto com o mundo ser eu quem sempre está sofrendo de algum mal. "O seu mal é você mesma", ele sempre me diz baixinho em tom de quem está tomando conta de mim nas horas em que estou mais desprevenida. Mas a minha vontade é de arrancar as vísceras dele pela boca por ele ousar não respeitar o meu espaço lírico, por ele nunca entender o que eu escrevo, por não se importar em entender e julgar que a solução é simplesmente não sofrer, é simplesmente não pensar, o que me irrita é ele achar que a solução é simples, é ele achar que a minha tristeza é só feia, é raza. Me irrita gente que não consegue enxergar além do óbvio da lágrima, gente que não consegue ver o lado bonito da dor (sem nada depressivo camuflado aqui).
O que quase ninguém entende é que, pra mim, doer não significa necessariamente não ser feliz. A melhor coisa do mundo inteiro são aquelas risadas de fazer doer a barriga, de dar cãibra no maxilar.Abraçar gente que a gente quer abraçar, comer comida boa, viajar sem saber onde vai acabar o destino, sem ter data pra voltar. Mas acontece que nenhuma dessas sensações anula o outro lado da moeda. Todo mundo é multissensitivo, todo mundo é capaz de sorrir e de chorar, é capaz de pensar além do que se ouve, é capaz de entender o que sente e de pensar a respeito disso. Acontece que nem todo mundo se interessa em se explorar, em se conhecer, em pensar um pouco fora da caixinha que deram pra gente colocar ao redor do nosso julgamento quando a gente ainda era criança. Nem todo mundo - ou quase ninguém - é tão autocrítico como eu sou, nem todo mundo passa dias e noites questionando o porquê é que a vida está passando tão rápido enquanto eu ainda não fiz um terço de tudo aquilo que eu sonhei fazer.
Eu tenho 17 anos, mas eu me sufoco imaginando que daqui 2 semanas serão 18 anos não aproveitados do jeito que eles deveriam. Eu queria correr mais, viver mais, sorrir mais, escrever mais poesia, queria já ter escrito um livro, queria poder viver de amor, de música, de arte, queria não precisar tomar decisões pra sempre agora que eu ainda nem sei onde meu pra sempre vai dar. Queria que minha mãe sempre estivesse perto e pronta pra mim, queria um amor que ultrapassasse os limites dele próprio, amizades que não fossem embora com o tempo. Eu queria ser mãe, queria ser mão pra quem precisa; queria não precisar tanto de coisas que, no fundo, não fazem bem pra mim. Queria que o mundo fosse menor, que as distâncias fossem mais fáceis de ser percorridas pra que eu pudesse estar o tempo todo há dez minutos caminháveis de todo mundo que eu gosto.
Mas hoje, e só hoje, o que eu queria era muito mais do que toda essa dúvida eterna que eu carrego como fardo, mesmo às vezes largando em algum cantinho que eu sempre volto depois pra buscar. Hoje, e só hoje, eu queria olhar pra você e enxergar de novo aquele cara por quem eu fui capaz, mesmo que brevemente, de apagar todos os meus pontos de interrogação. Aquele cara que era, no meio de tantas dúvidas, a única certeza; o cara que fazia de mim uma mulher melhor.
O meu coração está barulhento, está machucado, está se sentindo sozinho. E olha como a vida é engraçada, meu amor. Eu sempre chorei as mágoas de um coração que sangrava por estar assim, vazio, oco, sem ninguém. Mas eu nunca poderia supor, nem nos meus sonhos mais delirantes de idealista de um amor que nunca vai existir, que chorar as dores de um coração que dói acompanhado podia ser assim, tão pior.

[Rani Ghazzaoui



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