terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Caio Fernando Abreu ~

Ah. Menina, o que foi que foi que aconteceu com você? O que foi que fizeram com você? Eu não sei, eu não entendo. Roubaram a minha alegria.


Sai de mim, me deixa em paz, você arruinou a minha vida. 


Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranqüilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos.


Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.


Vem, antes que eu me vá, antes que seja tarde demais. Vem, que eu não tenho ninguém e te quero junto a mim. Vem, que eu te ensinarei a voar.


Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar. 


Eu não tinha muito a oferecer, eu sei… Mas tudo o que eu tinha, era seu. 


Porque é tão mais fácil aturar a vida sabendo que tem você. Agora sem você, meu amigo, a coisa é feia, realmente feia.


Queria que você gostasse de mim por mim. Caótico, distraído, perigosamente despreocupado. Meio despenteado, tão preocupado com coisas vagas. Queria que você também se encantasse com minhas imperfeições.


E se eu te olhar cem vezes, acredite, em cada uma delas estarei me apaixonando um pouco mais. 


Tô tirando férias, dando um tempo disso, chega de amar, chega de me doar, chega de me doer.


As pessoas, às vezes, procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo.


E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri…


E no entanto eu não desato esse laço. Tão apertado, parece forca. 






Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço. Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã. 


Tento fugir para longe e a cada noite, como uma criança temendo pecados, punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo. 
A gente se dá conta tarde de que a felicidade é fácil, não? 


Dá vontade de amar. De amar de um jeito “certo”, que a gente 
não tem a menor idéia de qual poderia ser, se é que existe um. 


Sem medo da morte, porque esta quase história pertence àquele tempo em que amor não 
matava.


Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais.


Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso.


Eu não soube, não perguntei nem disse uma porção de coisas. 


Sinto uma falta absurda de você. Ficou um vazio que ninguém (pre)enche. E penso e repenso 
e trepenso em você por aí.


Então tenho que ser forte, tenho que me exercitar em autocontrole. Claro que me pergunto 
pra-quê? — e claro que não tenho resposta.


Mas fique tão tranqüilo — e humilde, e confiante — quanto possível. É só uma fase, só um estágio. Vai passar.


Mas tristinho parar e pensar: ah, então foi pra ele que eu dei meu coração e tanto sofri? 
Amor é falta de QI, tenho cada vez mais certeza.


Quis morrer de novo, engoli outra rejeição — mas estou vivo e, sinto muito, vou continuar.


Ficou de pé ao lado dele. Mas era como se não o conhecesse mais. Acendeu outro cigarro.


E nada mais triste que histórias abortadas, arrastando correntes, fantasmas inconsoláveis. 

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